O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) optou pelo corte de 50 pontos-base, ou 0,50 p.p., nas taxas de juros brasileiras. Assim, a Selic, que havia sido mantida a 13,75% a.a. desde o ano passado, vai para 13,25% a.a.
O ajuste surpreendeu levemente o mercado. Como explica o economista-chefe da Messem, Gustavo Bertotti, as expectativas estavam muito divididas entre um corte de 0,25 p.p. ou 0,50 p.p.
Segundo ele, o comunicado divulgado pelo comitê, tão importante quanto a decisão do Copom, dá sinais claros acerca dos próximos encontros, mas depende de alguns fatores importantes.
Copom vigilante
Para Bertotti, o comunicado divulgado pelo BC foi mais dovish, de conduta voltada para o estímulo econômico. Mesmo assim, manteve a leitura acerca do balanço de riscos, principalmente em relação ao mercado externo.
Há um processo de desaceleração da atividade global, ainda que a desinflação siga mais forte que o esperado. Preocupações com a China ainda persistem, com o país lidando com uma expansão econômica aquém do esperado, consumo que ainda não se recuperou do baque da política de Covid Zero e crise no mercado imobiliário.
O país, porém, vem se movimentando com políticas de incentivo à infraestrutura e, mais recentemente, em relação ao consumo.
No cenário doméstico, apesar da desaceleração da inflação, existem desafios:
“A inflação do setor de serviços segue muito resiliente, o que justifica uma política monetária com um tom mais contracionista e vigilante”, aponta o economista-chefe da Messem.
Apesar da queda de 0,08% no IPCA de junho, o setor de serviços avançou 0,62% (ante 0,32% em maio), com acumulado de 6,21% considerando a soma dos últimos 12 meses.
Quais são os próximos passos?
Diferente em relação aos encontros anteriores, o comunicado do Copom deu sinais claros em relação aos próximos meses.
“A prescrição das futuras reuniões é, se mantendo um cenário de queda inflacionária, convergindo para a meta, projetam-se cortes na mesma magnitude nas próximas reuniões do Copom”, aponta Bertotti. “De qualquer modo, é importante acompanhar o cenário externo, que também impacta o Brasil — o Copom está vigilante neste sentido”.
O comunicado do BC reforça as expectativas de uma Selic encerrando o ano a 12% a.a., taxa hoje projetada pelo relatório Focus. Apesar das prescrições futuras, que dependem dos balanços de riscos, os juros permanecerão altos, com projeções de encerrar 2024 a 9,25% a.a.
Outro ponto de atenção fica para o impacto do ajuste da Selic na economia brasileira, coisa que, segundo o economista-chefe, “leva tempo”. São por volta de oito meses até que os efeitos na economia sejam de fato tangíveis.